População leonense luta contra aterro sanitário
Por Fábio Grill
A polêmica teve início quando a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de Capão do Leão postou um vídeo no Facebook oficial do órgão durante a visita do prefeito, do vice-prefeito, de uma bióloga da Secretaria do Meio Ambiente e de representantes do legislativo à unidade da CRVR em Victor Graeff. O vereador Lelei (PSDB) entrou com um pedido de informação na Câmara de Vereadores para saber por que a Prefeitura Municipal estava fazendo propaganda de uma empresa em um canal oficial, já que nunca havia feito o mesmo para nenhuma outra empresa.
O estopim da controvérsia ocorreu após a divulgação de um segundo vídeo da mesma visita, que começou a circular nas redes sociais. Nele, o vice-prefeito Jeferson Antuarte afirma que Capão do Leão não pode perder o empreendimento da CRVR (um aterro sanitário que receberia inicialmente 700 toneladas de lixo por dia). Ele também menciona que outros municípios estão interessados no aterro sanitário, dizendo que “Rio Grande está pronto para pegar” e enfatizando que “a gente precisa dar esse passo para a frente”. O vice-prefeito também declarou que o local onde atualmente se deposita o lixo “não tem mais capacidade” (referindo-se ao aterro de Candiota, que na realidade possui uma célula nova com vida útil de mais de 40 anos).
A partir dessas declarações, formou-se um movimento popular para contestar o vice-prefeito e lutar contra a instalação do aterro sanitário.
O que diz o vice-prefeito?
- Não há nada concretizado sobre a implantação do aterro sanitário.
- Não há qualquer autorização assinada pela prefeitura para a viabilidade do aterro sanitário.
O que diz o movimento?
- Há um grande esforço da prefeitura para trazer esse aterro sanitário para o município, embora não se manifeste oficialmente.
Quais as vantagens defendidas pelo vice-prefeito?
- Geração de renda através de impostos.
- Criação de cerca de 50 empregos diretos.
Quais as desvantagens apontadas pelo movimento?
- Desemprego entre os produtores rurais.
- Desvalorização imobiliária.
- Prejuízos econômicos a longo prazo.
- Proliferação de pragas e insetos.
- Mau cheiro nas proximidades do aterro.
- Problemas de saúde.
- Contaminação do solo e do lençol freático.
Entendendo a motivação da prefeitura:
- A prefeitura arrecadaria cerca de R$ 1 milhão por ano em impostos.
- Redução no custo do transporte de resíduos sólidos.
- Criação de aproximadamente 50 empregos diretos.
Entendendo a insatisfação da comunidade rural:
Os produtores rurais da Capela da Buena, diretamente afetados pelo aterro, sobrevivem de cultivos como milho, soja, feijão, melancia, morangos e pitaias. Esses agricultores dependem de águas subterrâneas, nascentes, açudes e águas superficiais para consumo próprio, para os animais e para irrigação. Com a instalação do aterro, esses recursos podem ser comprometidos, tornando inviável a atividade agrícola e gerando mais desemprego do que os empregos prometidos pela CRVR.
Entendendo a insatisfação da comunidade em geral:
Um acidente envolvendo o rompimento da geomembrana ou vazamento de chorume poderia contaminar o solo e o lençol freático, provocando um desastre ambiental na Bacia Hidrográfica da Lagoa Mirim e do Canal São Gonçalo. Isso afetaria diretamente mais de 700 mil pessoas, incluindo os municípios de Capão do Leão, Pelotas e Rio Grande, que dependem dessas águas para abastecimento.
Além disso, os abalos sísmicos decorrentes das detonações em pedreiras e mineradoras podem comprometer a integridade da geomembrana do aterro, aumentando os riscos ambientais.
Justificativa de um possível acidente:
- A indústria fornece, em média, 3 anos de garantia para a geomembrana, com vida útil estimada entre 20 e 30 anos.
- O aterro sanitário teria uma vida útil de 22 anos e, por lei, deve ser monitorado por mais 20 anos após sua exaustão.
- O custo de manutenção e monitoramento após o fechamento será superior ao valor arrecadado durante seu funcionamento.
- Os impactos ambientais, sociais e econômicos negativos da instalação do aterro sanitário são considerados irreversíveis, afetando agricultores, população atual e futuras gerações.
Como se defende o vice-prefeito?
- “O Executivo jamais aprovaria ou implantaria algo sem o parecer da comunidade. Essa é a realidade e a verdade sobre o assunto.”
O que propõe o movimento?
- Criação de ecopontos, coleta seletiva e cooperativas de reciclagem.
- Redução do volume de lixo enviado para aterros em até 80%.
Exemplo de Reciclagem em Morro Redondo:
- População: 6.046 hab. (IBGE, 2022)
- Lixo reciclado: 41 toneladas/mês
Situação de Capão do Leão:
- População: 25.462 hab. (IBGE, 2021)
- Lixo enviado para aterro: 400 toneladas/mês
Se Capão do Leão implementar a reciclagem nos mesmos níveis de Morro Redondo, poderia reduzir o lixo enviado a Candiota para 172 toneladas/mês, economizando recursos e preservando o meio ambiente.
Conclusão do movimento: “Uma gestão competente busca soluções inteligentes e prioriza a população.”