Embrapa Cocais completa 14 anos
Unidade ecorregional criada em 14 de dezembro de 2009 para minimizar contrastes típicos do estado e impulsionar o desenvolvimento, a Embrapa Cocais tem atuação nos maiores e mais importantes biomas do Brasil – a Amazônia e o Cerrado -, além da zona de transição dos cocais e da baixada, prevalecendo o agronegócio na região da Matopiba (Cerrado) e a agricultura familiar e o extrativismo nas demais regiões. Desde sua implantação, tem como estratégia o compartilhamento de expertises, campos experimentais e laboratórios para atender as demandas regionais do setor produtivo.
Para cumprir sua missão, adotou a prática de se conectar com agentes de C&T e instituições públicas e privadas (produtores, agroindustriais e indutores) do estado, a Rede Embrapa e ainda produtores e agroindústrias de todos os portes, poder público (instituições de ciência e tecnologia e órgãos do governo estadual e municipal) e sociedade civil organizada, construindo modelo de inovação aberta para fazer entregas e diversificar fontes de recursos.
Para o chefe-geral, Marco Bomfim, essa aliança estratégica tem fortalecido o ecossistema de pesquisa e inovação maranhense, arranjos produtivos e políticas públicas e o desenvolvimento territorial inclusivo e sustentável. “A Embrapa Cocais e parceiros estão mudando a realidade socioeconômica e ambiental do Maranhão, que ainda tem bastante fôlego para crescer e muitas demandas a solucionar. É na força dos elos do ecossistema – ciência e tecnologia, iniciativa privada, pública e sociedade civil –, que a transformação vem se materializando”.
Colhendo os frutos e construindo o futuro – A Embrapa no Maranhão é parceira fundamental e estratégica na consolidação do Maranhão como potência agrícola. No Cerrado maranhense, trabalha-se pela intensificação e diversificação produtiva com sustentabilidade ambiental do mercado das commodities – como soja, milho e algodão – e da bovinocultura, inclusive com URTs de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta – ILPF. Na Amazônia maranhense, o centro de pesquisa vem trabalhando pelo fortalecimento da transferência de ativos já desenvolvidos pela Embrapa e projetos institucionais (como sistemas consorciados, hortas, alimentos biofortificados, Balde Cheio, Reniva entre outros) para os produtores da agricultura familiar na região. As ações englobam recuperação dos sistemas agroflorestais – com ênfase em fruticultura e hortaliças – e mercado de serviços ambientais -, valorizando a floresta de pé e agregando valor aos produtos da biodiversidade. Há também pesquisas para geração de produtos da biodiversidade sustentáveis, de valor agregado e com potencial para negócios com identidade sociocultural e tornar o babaçu âncora de um sistema agroalimentar maranhense.
Assim, mais produtividade com menos impacto ambiental e mais inclusão socioprodutiva a partir da agricultura familiar e dos recursos da biodiversidade é a essência dos três grandes focos de atuação da Embrapa Cocais: bioeconomia, inovação social e sistemas produtivos sustentáveis. Esses três eixos estão orientando os temas de pesquisa e o perfil dos novos profissionais a serem contratados via concurso público em 2024 e a infraestrutura física da Embrapa Cocais, a ser construída nos próximos anos com os recursos do Novo PAC.
Tecnologias para o fortalecimento do desenvolvimento regional sustentável da agricultura familiar e ao agronegócio
Soja, milho e mais grãos – Uma das contribuições da Embrapa no Maranhão, por meio da sua Unidade de Execução de Pesquisa (UEP) em Balsas, foi viabilizar a produção de soja na região, onde anteriormente não havia cultivares adaptadas às condições tropicais locais. Além de cultivares desenvolvidas pelo melhoramento genético, diversas tecnologias de manejo da cultura da soja – como técnicas de manejo do solo, plantio direto e fixação biológica – vêm sendo desenvolvidas e difundidas para os produtores da região. Atualmente são cultivados mais de um milhão de hectares de soja no Maranhão, além de aumentos significativos de culturas associadas ao sistema de produção de grãos, incluindo milho, feijão, sorgo, milheto e algodão, entre outras, e ainda a Integração Lavoura-Pecuária (ILP). “O aumento da área cultivada com soja ao longo dos anos vem viabilizando o cultivo de outras culturas associadas, assim como a sua industrialização, gerando subprodutos para a alimentação animal, fabricação de rações e, consequentemente, agregação de valor com a produção de carnes, além da maior demanda por milho, favorecendo a rotação de culturas, o aumento da produtividade e a demanda por mais serviços e a geração de empregos e renda e a inclusão social”, explica o coordenador técnico da UEP, Dirceu Klepker.
A tradição e a riqueza do arroz – Graças ao trabalho conjunto entre Embrapa Cocais, Rede Embrapa e parceiros, a rizicultura maranhense vem recuperando sua capacidade de produção e colhendo bons resultados do investimento em pesquisa, transferência de tecnologia e políticas públicas. Foram articuladas políticas de incentivo ao cultivo e, para melhorar a produtividade e a qualidade do arroz, cultivares da Embrapa foram adaptadas e transferidas para o estado e adotadas por produtores. O resultado desse trabalho é visível: hoje cultivares da Embrapa estão cada vez mais presentes na vida dos agricultores do Maranhão. O trabalho de avaliação e recomendação das cultivares, associado a políticas públicas e ao serviço de pesquisa e extensão rural do governo do estado, tem permitido a distribuição das sementes em parceria com as prefeituras, fazendo-as chegar até o público-alvo, o produtor rural.
Sem uso de fogo, Roça Sustentável – O Consórcio Rotacionado para Inovação para a Agricultura Familiar (CRIAF), mais conhecido como Roça Sustentável, é uma tecnologia que busca a diversificação da produção na propriedade do agricultor familiar e permite organizar a produção da família com incremento da produção: até cinco vezes a produtividade da mandioca e em 50% a produtividade do arroz e do milho. Planta-se arroz, milho, feijão-caupi e mandioca em consórcio em faixas, separando as espécies cultivadas de forma que não haja competição entre elas por nutrientes, água, luz e espaço. Além do consórcio, o sistema preconiza a rotação de culturas com uso de “safrinha”, prática que intensifica o uso da terra e maximiza o aproveitamento do período chuvoso. Essas práticas agrícolas aliadas ao uso de defensivos na dose e hora certa intensificam a eficiência do uso da terra, o controle de pragas, doenças e ervas daninhas e ainda recupera áreas degradadas. A reconfiguração do “roçado” também permite mais fertilidade ao solo e nutrição às plantas. Segundo o analista Carlos Santiago, o conjunto tecnológico que compõe o CRIAF representa tecnologias sustentáveis que fazem parte das soluções para redução do fogo na agricultura, no combate à fome e à pobreza rural, por meio da produção diversificada de alimentos.
Mais e melhor produção de mandioca e farinha – A Embrapa Cocais realiza também atividades de transferência de tecnologia para produção de mandioca em todo o estado. Uma dessas atividades, executada com parceiros diversos, é o Projeto Rede de multiplicação e transferência de maniva-semente de mandioca com qualidade genética e fitossanitária (RENIVA), que proporciona maior sustentabilidade e competitividade para a mandiocultura e resgate das variedades tradicionais. Também faz parte do trabalho a realização de cursos para técnicos e agricultores em municípios maranhenses, inclusive sobre processamento da raiz de mandioca. Outra ação são as capacitações em Boas Práticas de Fabricação (BPF) de farinha, tradicional produto da mesa do brasileiro, em especial do maranhense. O objetivo é ensinar técnicas de fabricação de farinha e boas práticas de higiene na manipulação do alimento e manuseio da massa. “São técnicas de produção que fazem a diferença na agregação de valor à farinha, com textura e sabor diferenciado, e na conquista de novos mercados”, explica o pesquisador José de Ribamar Veloso.
Sisteminha combate a fome e a pobreza – É uma tecnologia conhecida nacional e internacionalmente por criar oportunidades para que o indivíduo possa se alimentar com o que produz, utilizando estruturas simples, e partilhar ou mesmo negociar seus produtos com vizinhos e a comunidade, ampliando benefícios econômicos e sociais. Atualmente está sendo escalada a produção para vir a ser modelo de desenvolvimento local e regional: o Sisteminha Comunidades. O Sisteminha tem o propósito de gerar retorno rápido e se apresenta de forma versátil e multiplicável. Baseia-se na atividade de piscicultura, como motor de um sistema integrado para a produção de alimentos e, quando comparado com os métodos tradicionais de cultivo, apresenta baixo consumo de água e energia elétrica. Segundo explica o pesquisador Luiz Guilherme, esse modelo sistêmico para produção integrada de alimentos permite disponibilizar, para as famílias que o adotam, uma diversidade de alimentos de origem animal (peixes, ovos de galinha e codornas, frangos de corte, suínos, porquinhos da índia e outros) e vegetais e frutas diversas ricos em carboidratos, proteínas, minerais e vitaminas.
ILPF com babaçu – No Maranhão, a imensidão de áreas com as palmeiras de babaçu na paisagem e nas áreas de pastagem despertou a curiosidade dos pesquisadores da Embrapa e parceiros para estudar o babaçu como componente florestal do Sistema ILPF. A raiz profunda do babaçu tira nutrientes bem debaixo da terra. As folhas, ao caírem e servirem como palhada dos cultivos, permanecem no solo para nutrir a pastagem e o gado que se alimenta dela. A sombra das palmeiras favorece a produtividade de carne e leite. A presença da palmeira nativa e a manutenção do extrativismo do babaçu em áreas de pastagem agrega valor a todo o sistema produtivo e aos coprodutos do babaçu. O produtor se beneficia com impactos agronômicos e zootécnicos positivos para a pecuária. É alto o impacto social e econômico na vida das comunidades de quebradeiras de coco, ao gerar mais renda para as famílias. A mata de cocais em pé ainda pode gerar serviços ambientais em benefício de quebradeiras e produtores, como créditos de carbono e carne e leite carbono neutro, com a captação de gases de efeito estufa pelas palmeiras.
Alimentos com babaçu projetam a biodiversidade maranhense – O conhecimento tradicional e o científico são parceiros no desenvolvimento de novas formulações para alimentos já produzidos pelas quebradeiras de coco e novos produtos alimentícios à base do babaçu. O objetivo é agregar valor ao produto da palmeira e ao trabalho das comunidades quilombolas e das famílias agroextrativistas que trabalham e geram renda com o babaçu. Assim, foram desenvolvidas novas formulações para o biscoito e o gelado de babaçu e novos produtos alimentícios, como a bebida tipo leite, o análogo de queijo, o tipo hambúrguer e a farinha da amêndoa. Os produtos atendem diferentes exigências do mercado de alimentos – nutrição, saúde, boas práticas de qualidade, segurança alimentar, padronização e valorização dos produtos da culinária e cultura regionais e comercialização – e passam por testes de análise sensorial. Para multiplicar os conhecimentos gerados no processo de inovação social, as quebradeiras recebem treinamentos e treinam outras comunidades na produção dos novos alimentos do babaçu para promover o empreendedorismo e a autonomia das mulheres.
Torta de babaçu produz carne de caprinos mais saudável – O coco do babaçu também está presente na alimentação animal. A Embrapa no Maranhão e parceiros vêm desenvolvendo rações balanceadas para caprinos e ovinos incluindo o resíduo da extração do óleo – conhecido localmente como torta da amêndoa do coco babaçu – em substituição parcial a ingredientes tradicionais, como milho e soja. Animais que foram alimentados com a dieta contendo a torta de babaçu apresentaram melhor desempenho produtivo, qualidade e perfil de ácidos graxos da carne para o consumo humano. Os ácidos graxos dão sabor e suculência à carne, agregando valor ao produto. Além disso, são gorduras saudáveis e essenciais para o corpo humano que agem como reguladores da coagulação e saúde do sangue, da pressão arterial e da produção de hormônios e anticorpos e ainda como inibidores de inflamações, lesões e infecções. Entre os impactos futuros da pesquisa, a melhoria de renda e qualidade de vida das quebradeiras de coco, fornecedoras da torta de babaçu; a redução do custo da ração feita com matéria-prima abundante na região e o incentivo à cadeia de consumo de carne de pequenos ruminantes no estado. Para os consumidores, mais saúde e variedade de alimentação.
Por: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)