Considerada uma das mais respeitadas e reconhecidas tropas militares do Brasil, o Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha agora quer se tornar referência no uso das chamadas armas não letais. Isso após o início de um projeto inédito no país em parceria com uma das principais companhias do setor de Defesa brasileiro.
Do litoral às regiões ribeirinhas da Amazônia, do Pantanal à Caatinga, a presença em praticamente todo o território nacional de uma das principais tropas das Forças Armadas do Brasil, cuja origem está ligada a então Brigada Real da Marinha do Reino Unido de Portugal: o Corpo de Fuzileiros Navais (CFN). Com cerca de 18 mil militares, é a força da Marinha brasileira responsável por combates terrestres e especializada em guerra anfíbia (quando uma ação ofensiva sai do mar para incursão por terra em regiões hostis).
Quem são os fuzileiros navais?
Reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) no nível mais alto de classificação militar mundial para reação rápida de combate, o CFN inicia a preparação para se tornar referência no uso de armas não letais.
No início do mês, a Marinha do Brasil assinou um acordo com a empresa brasileira Condor Tecnologias Não Letais, referência para o setor em todo o Hemisfério Sul.
Comandante do Material de Fuzileiros Navais, o vice-almirante Rogério Lage disse à Sputnik Brasil que as tropas foram escolhidas para dar início ao projeto, que posteriormente poderá ser expandido para outras forças brasileiras, “pela capacidade que a instituição desenvolveu ao longo dos mais de 216 anos de existência e da experiência acumulada nos mais diversos empregos em situação real”.
“Além disso, trata-se da única tropa das Forças Armadas brasileiras 100% profissional, ou seja, todos os seus integrantes foram aprovados em concurso público, passaram por rigoroso processo seletivo e são submetidos constantemente a diversos treinamentos e variadas simulações de combate”, explica, ao acrescentar que o modelo é inspirado no Programa Conjunto de Emprego de Material Não Letal do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DoD, na sigla em inglês).
Conforme o vice-almirante, por meio da parceria com a empresa brasileira serão desenvolvidas novas tecnologias e uso das armas não letais nos mais “diferentes cenários de atuação”. O protocolo foi negociado ao longo dos últimos meses e conta com três eixos principais: conhecimento, direcionamento futuro, além de preparo e emprego.
“Este Protocolo de Intenções é a semente para um programa conjunto das Forças Armadas sobre tecnologias não letais. Estamos entusiasmados com as perspectivas que esta colaboração oferece e ansiosos pelos avanços e pelas inovações que surgirão desta parceria”, declarou durante a assinatura o diretor-executivo da Condor, Frederico Aguiar.
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Quais os tipos de armas não letais?
Rogério Lage explica que as armas não letais permitem o uso proporcional da força, principalmente em situações com civis. “É um instrumento desenvolvido com a finalidade de provocar incômodo para interromper comportamento violento e cessar hostilidades. Nesse sentido, seu emprego possibilita a adoção de medidas eficazes contra elementos adversos, principalmente em operações de Garantia da Lei da Ordem (GLO) e operações de paz, reduzindo danos colaterais e estruturas importantes ou elementos que possam estar se opondo ao avanço da tropa do Corpo de Fuzileiros Navais”, pontuou.
No ano passado, a CFN atuou de forma inédita em uma GLO, convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em novembro do ano passado para atuar junto aos portos e aeroportos de São Paulo e Rio de Janeiro, a fim de fazer frente ao aumento de crimes como tráfico de drogas e de armas nos terminais.
No início de maio, quando a operação foi renovada por mais 30 dias, a reportagem da Sputnik Brasil conversou com o capitão de mar e guerra (fuzileiro naval) Alex Ribeiro, comandante do 1º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais, responsável por gerir as operações no Porto de Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Somente em uma das ações foram apreendidos pelo menos 200 quilos de cocaína no casco de um cargueiro, que seguiria para a Alemanha.
“Como exemplo de emprego pode ser citada a atividade de controle de distúrbios, em que a tecnologia não letal é usada para dispersar ou controlar grandes grupos de pessoas sem causar danos permanentes”, acrescentou o vice-almirante.
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Quem são os fuzileiros navais?
Já o especialista em assuntos militares Pedro Paulo Rezende enfatizou à Sputnik Brasil que o investimento pela Marinha em tecnologia não letal no CFN também ocorre diante do tipo de função dessas tropas.
“Os fuzileiros navais são uma força de imposição de paz básica. Quer dizer, são os primeiros a desembarcarem caso haja conflito civil, e a ONU [Organização das Nações Unidas] entra no pacote. Em vez de chegar usando armas de fogo e outras munições, muitas vezes você tem que ter um tipo de equipamento que sirva para dispersar a multidão”, destacou.
Rezende acrescenta ainda que tornar os fuzileiros referência no emprego dessas tecnologias militares é uma “maneira de o Brasil projetar sua força” internacionalmente. As tropas possuem a classificação 3 da ONU, a mais elevada, uma das poucas com essa posição disponíveis para atuação no mundo, já que as outras estão empregadas em conflitos ao redor do globo. “É um excelente caminho [usar os fuzileiros] para você iniciar o projeto [de desenvolvimento de tecnologia não letal]. Podem ser armas de choque, gases incapacitantes, mas que não são letais”, diz.
O especialista ainda traz outro exemplo, desenvolvido pelo Ministério da Defesa brasileiro para uma operação no exterior. “Quando eu estava lá, desenvolvemos um sistema de arma não letal que era um aviso sonoro que atordoava quem tentasse invadir o navio da Marinha do Brasil. Isso foi utilizado no Líbano, era um sistema de ultrassom que causava náuseas para quem tentasse entrar sem autorização na fragata. É algo muito bom também para trabalhar contra piratas”, finalizou.
Fonte: Site Sputnik / Foto: Comando Anfíbios do corpo de fuzileiros