Museu das Favelas reabre com mostras sobre magia e vida em comunidades

Por Redação Gazeta Gaúcha/ Brasília/

Fotos: Paulo Pinto/ Ag Brasil

Multiplicidade de linguagens caracteriza as quatro exposições no local

Antes localizado no bairro de Campos Elíseos, o Museu das Favelas reabriu nesta semana, em novo endereço, todas as exposições. O museu agora fica na região do Pateo do Collegio, no centro histórico de São Paulo.

São Paulo (SP), 06/12/2024 - Equipamento público no largo Páteo do Colégio, que tem novo endereço: saiu do Palácio dos Campos Elíseos e foi para o Patéo do Colégio. O novo espaço é reinaugurado com uma série de exposições: “Favela em Fluxo” exibe obras de 22 artistas brasileiros e ficará até fevereiro de 2024. “Marvel – O Poder é Nosso” apresenta releituras feitas por jovens artistas negros e indígenas. A exposição “Racionais MC’s: O Quinto Elemento” celebra os 35 anos da banda de rap Racionais MC’s com itens históricos dos membros do grupo, “Sobre Vivências” desconstrói estereótipos das favelas com mais de 80 obras. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Museu das Favelas é reinaugurado em novo endereço no centro histórico de São Paulo

Nessa retomada, quatro exposições ocupam os imensos salões de um casarão antigo. A principal mostra é Sobre Vivências, que busca resgatar as conexões históricas das favelas e apresentar aos visitantes as inúmeras expressões das pessoas que constroem suas vidas nessas comunidades.

Fazem parte ainda da programação as exposições Marvel – O Poder é Nosso, que compartilha com o público a releitura sobre heróis, agora membros de grupos minoritários, e a itinerante Favela em Fluxo, que é composta por obras de 22 artistas dessas comunidades e desembarca em São Paulo após percorrer Recife, Salvador e Rio de Janeiro.

São Paulo (SP), 06/12/2024 - Equipamento público no largo Páteo do Colégio, que tem novo endereço: saiu do Palácio dos Campos Elíseos e foi para o Patéo do Colégio. O novo espaço é reinaugurado com uma série de exposições: “Favela em Fluxo” exibe obras de 22 artistas brasileiros e ficará até fevereiro de 2024. “Marvel – O Poder é Nosso” apresenta releituras feitas por jovens artistas negros e indígenas. A exposição “Racionais MC’s: O Quinto Elemento” celebra os 35 anos da banda de rap Racionais MC’s com itens históricos dos membros do grupo, “Sobre Vivências” desconstrói estereótipos das favelas com mais de 80 obras. .Curador Oswaldo Faustino. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Oswaldo Faustino, curador da Favela em Fluxo, uma das quatro mostras instaladas no museu –

Para Oswaldo Faustino, integrante do grupo curatorial da Favela em Fluxo, entre as qualidades que se acentuam na seleção das obras para a exposição, a mais esparramada de todas foi igualar as contribuições da curadoria às de funcionários do setor educativo.

O setor de pesquisa também participou das decisões. Faustino explica que foi fundamental validar as percepções de quem está simbolicamente nos bastidores, mas, na verdade, é a linha de frente, pois atende os visitantes e os guia pela exposição.

Quando se transita pelas salas onde estão expostas as obras, nota-se uma multiplicidade de linguagens. Há pinturas a óleo, colagens, arte têxtil e vídeos que utilizam inteligência generativa. Os textos que antecipam algumas das intenções de que estão impregnadas as obras resumem, por vezes, em poucas palavras, como encará-las.

Deusa da Espreita é como artista Lua Barral chama a pintura que fez este ano no Recife. Em uma cabine escura, é exibido um vídeo de travestis que miram no fundo das lentes da câmera reafirmando quem são. Afinal, travesti é um termo usado para realçar a cápsula que se torna o corpo de quem é sempre oprimido, como é o caso da travesti. Aer favelizada significa ser duplamente forte. E é assim que uma das travestis comemora, segurando um bolo com uma vela de número 2, o aniversário de seu processo de transição de gênero.

A favela não é uma, são várias, declaram os artistas e servidores do museu. Negros, indígenas e ribeirinhos; palafitas, casas verticalizadas e, ainda assim, precárias, isso tudo pertence ao seu universo.

São Paulo (SP), 06/12/2024 - Equipamento público no largo Páteo do Colégio, que tem novo endereço: saiu do Palácio dos Campos Elíseos e foi para o Patéo do Colégio. O novo espaço é reinaugurado com uma série de exposições: “Favela em Fluxo” exibe obras de 22 artistas brasileiros e ficará até fevereiro de 2024. “Marvel – O Poder é Nosso” apresenta releituras feitas por jovens artistas negros e indígenas. A exposição “Racionais MC’s: O Quinto Elemento” celebra os 35 anos da banda de rap Racionais MC’s com itens históricos dos membros do grupo, “Sobre Vivências” desconstrói estereótipos das favelas com mais de 80 obras. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
A exposição Racionais MC’s: O Quinto Elemento celebra os 35 anos da banda de rap – 

Outra obra que chama a atenção tem praticamente uma segunda moldura para a colagem no centro, feita com lâminas de barbear perfiladas. O sentido político continua quando o visitante para para prestar atenção à música que deixa, então, de ser somente um fundo indefinido. É o gargantear dos funkeiros Pétala Lopes, MC Mano Feu e Luiza Fazio, no clipe de Linguadinha na XXT, que pode ser constrangedor para os mais recatados ou conservadores.

Uma das salas abriga um beco com fotografias. Faustino conta que a primeira coisa que lhe ocorreu, quando soube que a exposição teria esse elemento, foi a referência de um lugar sufocante. “Aí, uma mulher trans do nosso grupo virou e disse: ‘Mas também pode ser libertador’. Eu falei: ‘Como libertador?’ Ela respondeu: ‘Quando eu era pequena, estava na favela tal, com a minha tia, eu pulava da janela do quarto e caía no beco. Saía do beco e, de repente, encontrava espaço livre. Então, o beco, para mim, era o caminho da liberdade'”, relata.

“Eu disse: ‘Olha, a gente está olhando a favela do lado de fora. E você está me dando o olhar de dentro’. Achei maravilhoso”, emenda.

A palavra “favela” tem relação com o Morro da Favela, hoje chamado de Morro da Providência, no Rio de Janeiro, e que fez parte do contexto da Guerra de Canudos. A etimologia, ou seja, origem do termo, é também lembrada na exposição Sobre Vivências, na forma da planta denominada faveleira, agora estruturada com madeira e um material inusitado em sua copa.

A ideia foi de um coletivo de artistas. “O coletivo olha e me diz: ‘Vamos fazer a copa dessa árvore em crochê. Aí, vira uma árvore estilizada. No tronco, foram feitos em pirografia nomes relacionados às nossas ancestralidades. Ou seja, não tem espinhos. E por que não tem espinhos? Porque nossos ancestrais já apararam. Então, hoje, favela, que nasceu como carência, passa a ser potência'”.

A entrada é gratuita e as exposições no Museu das Favelas poderão ser visitadas até fevereiro do ano que vem.

Ag/ Brasil