O PODER INVISÍVEL DO CONDESTÁVEL DA REPÚBLICA
Por Redação Gazeta Gaúcha
Portal Gz1.com.br
Pelotas RS
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Figura emblemática da República Velha (1889-1930), José Luis Pinheiro Machado foi o grande ícone da política brasileira, ocupando o cargo de senador com grande poder de articulação.
Responsável pela chamada “política dos governadores”, atuava nos bastidores com maestria e alto grau de influência. Militar de carreira, atuou na Guerra do Paraguai e na Revolução Federalista possuindo atuação destacada, a qual proporcionou o seu ingresso na seara política.
Fervoroso defensor do sistema republicano de governo, foi o fundador do Partido Republicano Conservador, sendo eleito ao Senado no ano de 1890.
De postura marcante, e com acesso fácil aos presidentes da República, charges e comentários sobre sua perspicácia emergiam aos borbotões. Um exemplo claro foi a tira realizada pelo Jornal “O Gato”, com a seguinte frase supostamente dita por Hermes da Fonseca, então presidente da República ao seu sucessor, Venceslau Brás: “Olha Venceslau, o Pinheiro é tão bom amigo que chega a governar pela gente”.
Uma das frases mais marcantes de Pinheiro Machado, foi pronunciada quando do cerco ao Senado, motivada por sua imposição do nome de Hermes da Fonseca como senador pelo Rio Grande do Sul. Nessa ocasião, onde quase foi linchado pela multidão, assim orientou seu cocheiro ao ser perguntado por este sobre como sairiam do local, fugindo da massa enfurecida: “Nem tão devagar que pareça afronta, nem tão depressa que pareça medo!”
Mas, justamente por conseguir implementar sua vontade política com maestria, acumulou um grande número de adversários, os quais o enfrentaram com grande violência e tenacidade.
Observe-se que, àquela época, ainda existia a figura do duelo. O senador, em Ipanema, Rio de Janeiro, duelou com Edmundo Bittencourt, diretor do jornal Correio da Manhã. Durante a refrega, após Bittencourt, seu adversário, atirar e errar na primeira rodada, Pinheiro Machado atirou para o alto. Já na segunda rodada, Edmundo errou o tiro novamente. Por sua vez, Pinheiro acertou um tiro na perna do adversário, numa demonstração de cavalheirismo, segundo o relato de testemunhas.
Isso atiçou ainda mais o imaginário da população, criando a sensação de que os inimigos do político insigne não o enxergavam quando de seus embates, tanto físicos, quanto ideológicos.
Esse manto invisível que cerca personalidades ímpares poderosas, nos fazem indagar sobre como o poder vai sendo forjado, delineando seus contornos de maneira imperceptível.
Sobretudo, o senador era um homem de longo alcance de visão, e teria previsto sua própria morte em entrevista a um jornal, com a seguinte frase: “Morro na luta. Matam-me pelas costas, são uns ‘pernas finas’. Pena que não seja no Senado, como César…”
Poucos meses depois, conforme sua previsão, foi assassinado pelas costas, por Manço de Paiva, no Hotel dos Estrangeiros, na cidade do Rio de Janeiro, sendo essas suas últimas palavras: “Ah, canalha! Apunhalaram-me!”. Melhor seria a frase famosa no assassinato da Roma Antiga: “Até tu, Brutus!”
A motivação sobre o assassinato ficou numa espécie de limbo, pois Manço argumentou que cometera o crime por iniciativa própria, fato controverso até os dias de hoje, em decorrência dos inúmeros inimigos de Pinheiro Machado. Esse crime gerou uma enorme comoção nacional, e com a sua morte, o Partido Republicano Conservador, do qual era presidente, praticamente desapareceu.
Trazendo esse fato para o contexto dos dias atuais, percebe-se que a política nacional está polarizada e representada por dois expoentes, Lula e Bolsonaro, que, ao partirem, deixarão a seguinte pergunta no ar: Os partidos políticos os quais representam sobreviverão a esses eventos, ou como o partido republicano conservador, sucumbirão e passarão a fazer parte de nossa história política? Só o tempo nos trará essa resposta.
Colunista Luis Fernando Winck
Colaborador