Pesquisa desenvolve cultivares de porta-enxertos de maracujá resistentes à fusariose
Por Redação Gazeta Gaúcha/ Brasília/
Foto: Nilton Junqueira/ Embrapa
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Duas novas cultivares de maracujás silvestres para uso como porta-enxerto desenvolvidas pela Embrapa, em parceria com a Coopernova, estão trazendo de volta a possibilidade de produção do maracujá-azedo em Mato Grosso. Os materiais BRS Terra Nova (BRS TN) e BRS Terra Boa (BRS TB) são resistentes à fusariose, doença que dizimou os maracujazeiros no estado. Selecionadas a partir de espécies silvestres, elas servem como porta-enxerto para cultivares comerciais de maracujá-azedo.
Já validadas para o estado de Mato Grosso, essas cultivares serão apresentadas no dia 10 de dezembro em Terra Nova do Norte (MT) (veja detalhes no quadro abaixo). Outras duas cultivares, também resistentes à doença têm apresentação prevista para os próximos meses: a BRSRJ MD, validada no Rio de Janeiro em condições de Mata Atlântica, e a UFERSA BRSRM 153, validada no Rio Grande do Norte e Bahia em condições do Semiárido e Cerrado.
As novas cultivares são das espécies Passiflora nitida Kunth (BRS TN) e Passiflora alata Curtis (BRS TB). Elas foram desenvolvidas e validadas na região norte de Mato Grosso por meio de uma parceria da Embrapa e a Coopernova. Materiais selecionados de diferentes espécies e híbridos interespecíficos foram testados em áreas com problemas de fusariose de produtores rurais associados à Coopernova a partir do ano de 2008. As cultivares BRS TN e BRS TB foram as que melhor se adaptavam à região, apresentavam compatibilidade com cultivares de maracujá-azedo Passiflora edulis, mantinham-se produtivas e, acima de tudo, não apresentavam sintomas ou mortalidade por fusariose.
Foto: Gabriel Faria
A ação da fusariose no maracujá
Os fungos Fusarium oxysporum f. sp. passiflorae e Fusarium solani causam, respectivamente, o entupimento do sistema vascular e a podridão das raízes, levando à morte prematura das plantas. Esses fungos estão presentes no solo e aproveitam de lesões nas raízes para infectar a planta. Com o tempo ocorre o apodrecimento das raízes e a murcha das folhas, levando o maracujazeiro à morte. O controle é difícil, uma vez que não existem alternativas químicas nem outras estratégias eficazes para o manejo da doença. Além disso, o fungo pode sobreviver por muitos anos no solo, mesmo na ausência de plantas hospedeiras.
Ações de pesquisa começaram há 26 anos
As pesquisas que buscam desenvolver tecnologias que contribuam com o manejo dessas doenças causadas por Fusarium começaram há 26 anos, na Embrapa Cerrados (DF). Segundo Fábio Faleiro, líder do Programa de Melhoramento Genético dos Maracujás da Embrapa (PMGM), resolver o problema da fusariose sempre foi uma importante demanda dos produtores de maracujá.
“Muitos produtores desistem do maracujá por causa da fusariose. Por isso, a apresentação das primeiras cultivares de maracujás silvestres, para uso como porta-enxerto, desenvolvidas pelo PMGM representa um marco importante para a cultura no País”, afirma Faleiro, que também atua como chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados. Ele ressalta que os novos materiais foram validados em condições comerciais e registrados no Ministério da Agricultura (Mapa).
Os primeiros experimentos foram estabelecidos em 1998 pelo pesquisador Nilton Tadeu Vilela Junqueira e envolviam a identificação e o uso de espécies silvestres e híbridos resistentes à fusariose a serem utilizadas como porta-enxertos de maracujazeiro azedo. Com o início do PMGM, foram realizados cruzamentos, seleção e recombinação de genótipos promissores.
Uma rede de parcerias foi estabelecida para a realização de testes de compatibilidade com o maracujazeiro-azedo comercial (Passiflora edulis L.) para a otimização dos métodos de produção de mudas enxertadas; realização de bioensaios e validação em áreas comerciais com histórico de ocorrência de fusariose. O trabalho ainda envolveu o estabelecimento da logística de produção de sementes e mudas das cultivares desenvolvidas. Essas ações foram realizadas durante as cinco fases do programa (saiba mais aqui).
Na quinta fase do PMGM, foi realizada a finalização tecnológica de quatro cultivares de maracujás silvestres para uso como porta-enxertos resistentes à fusariose, sendo os materiais registrados no Mapa: BRS Terra Nova (BRS TN), BRS Terra Boa (BRS TB), BRSRJ Minimaracujá Doce (BRSRJ MD) e UFERSA BRS Resistente de Mossoró 153 (UFERSA BRSRM 153).
Foto: Suzinei Oliveira (enxertia)
Enxertia
Diferentemente de outras frutíferas, como os citrus, mangueira e jaboticabeira, em que a enxertia é feita com uso de galhos de uma planta adulta, no maracujá é necessária a utilização de plantas jovens. Isso ocorre porque estas estão livres de vírus e ainda não possuem o caule oco, como as mais velhas. Além disso, devido à autoincompatibilidade do maracujazeiro-azedo para estabelecimento de pomares a partir de mudas enxertadas, é necessário que diferentes genótipos (obtidos a partir de sementes) sejam utilizados como copa.
Dessa forma, é feito o plantio em viveiro, por semente, tanto da cultivar que será o porta-enxerto, ou cavalo, quanto da cultivar que será a copa. As pesquisas realizadas pela Embrapa em parceria com a cooperativa Coopernova em Terra Nova Norte (MT) tiveram início em 2008 e avaliaram com sucesso o uso dos porta-enxertos Passiflora nitida cv. BRS TN Passiflora alata cv. BRS TB (veja aqui). Nos primeiros experimentos a cultivar de maracujazeiro-azedo BRS Gigante Amarelo foi utilizada como copa.
“A produtividade do maracujá enxertado não é igual ao pé franco. O pé franco tem um desenvolvimento inicial mais rápido e isso possibilita maior produtividade no início do período de produção. Mas um aspecto que não pode ser deixado de considerar é que o pé franco não sobrevive nas áreas com histórico de fusariose”, explica Givanildo Roncatto, pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) e responsável pelas pesquisas em Mato Grosso.
As avaliações em áreas de produtores mostraram uma produtividade de plantas enxertadas de 28 a 30 toneladas por hectare (t/ha). Para conseguir esta produtividade, os produtores associados da Coopernova utilizam tecnologia no sistema de produção como o uso de cultivares copa geneticamente superiores, correção da acidez e fertilidade do solo, podas de formação, polinização manual, irrigação, adequada nutrição e manejo fitossanitário das plantas. Essa produtividade obtida por mudas enxertadas é o dobro da média de produtividade nacional, de 14 t/ha a 15 t/ha.
Segundo Roncatto, as pesquisas com o maracujazeiro-azedo em Mato Grosso terão continuidade com a otimização do processo de produção de mudas enxertadas e com testes de cultivares mais novas de maracujazeiro-azedo como copa e também em pé franco nas áreas sem histórico de fusariose. Givanildo acredita ainda que é possível evoluir nas pesquisas em relação às técnicas de enxertia para aumentar a produtividade das plantas enxertadas.
Posteriormente, a Embrapa e seus parceiros vão estabelecer e expandir a logística de produção e comercialização de sementes e mudas enxertadas em diferentes regiões do Brasil. Além disso, será feito o licenciamento de produtores de sementes e viveiristas que produzem mudas enxertadas, garantindo a origem genética, bem como a qualidade fitossanitária e fisiológica desses materiais. O contato desses viveiristas poderá ser obtido na página de cultivares de maracujá da Embrapa.
Foto: Silvia Campos
Gabriel Faria (MTb 15.624/MG)
Embrapa Agrossilvipastoril