Pesquisas do IBGE retratam a rede urbana do país há quase seis décadas

Por Redação Gazeta Gaúcha/ Brasília/

Foto: Divulgação / IBGE/

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulga nesta segunda a publicação das Regiões de Influência das Cidades: Metodologia de compatibilização hierárquica entre as edições da pesquisa no período de 1966 a 2018. Serão divulgados o contexto histórico e a metodologia adotada ao longo das cinco edições da pesquisa Região de Influência das Cidades (REGIC). E a partir disso, também será apresentado a comparação direta entre as edições, quanto a verificação da hierarquia das cidades, a evolução das áreas de influência, além da evolução demográfica dos centros urbanos.

Padrões observados durante o tempo

As maiores mudanças metodológicas de acordo com Marcelo Motta, geógrafo do IBGE e gerente do estudo, foram entre as edições de 2007 e 2018. A mudança se deu na questão do avanço conceitual do entendimento da rede urbana. Nas edições de 1966, 1978 e 1993, a rede urbana é entendida apenas como o produto de deslocamento de pessoas para a obtenção de bens e serviços. Já nas edições de 2007 e 2018, é incorporada a Teoria dos Fluxos Centrais – responsável por analisar as funções econômicas e a distribuição de serviços no espaço geográfico através da relação com a organização da população, além de explicar, em última instância, a lógica da localização das diversas atividades nos sistemas urbanos. O geógrafo conta que o deslocamento das pessoas é “metade da história”. A “outra metade” são os vínculos informacionais, imateriais e de gestão em rede, criados pelas atividades urbanas.

“A REGIC 2018, especificamente, foi a única que a rede do IBGE foi diretamente aos municípios para a aplicação de questionário com informantes. As demais, o levantamento foi respondido pelas próprias agências do IBGE, com base em seu conhecimento do território. Um aprimoramento operacional foi o uso do DMC (dispositivo móvel de coleta), que agilizou o levantamento enviando os resultados diretamente para o banco de dados e permitiu verificações de consistência em tempo real, bloqueando automaticamente erros de coleta”, afirma Marcelo Motta.

As Regiões de Influência, em 1978 – segunda edição do estudo

Histórico do estudo

Desde 1966, o IBGE coloca o seu nome a serviço de estudar como as cidades têm influência no escopo de desenvolvimento do país. A REGIC entra nesse contexto pelo fato de identificar e analisar a rede urbana brasileira, estabelecendo a hierarquia dos centros urbanos e suas regiões de influência.

A REGIC tem periodicidade decenal, tendo a sua última atualização em 2018. Ao longo de todas as edições, a pesquisa verificou a forma pela qual as cidades se relacionam entre si, através do deslocamento de pessoas em busca de bens e serviços. Além disso, também foi verificado as ligações entre as empresas e as instituições públicas multilocalizadas.

Em todas as edições da pesquisa, a REGIC serviu de inspiração para inúmeros trabalhos acadêmicos serem produzidos, de acordo com as interpretações feitas sobre o urbano do Brasil. De acordo com Marcelo Motta, geógrafo do IBGE e responsável técnico pela pesquisa, a pesquisa serve de base para o gerenciamento das cidades. Ele diz que: “os gestores públicos e empresas podem utilizá-la como base para a tomada de decisões locacionais: onde abrir um novo hospital ou universidade, por exemplo, onde colocar um novo centro comercial ou rede de lojas, do ponto de vista do mercado”.

Metodologia do Estudo

A metodologia da pesquisa é complexa, sendo definida pelo nível hierárquico da gestão do território das cidades. A medição é feita através da presença de instituições públicas descentralizadas, como o INSS, a Receita Federal, a Justiça Federal etc.  Além disso, também é contado as empresas multilocalizadas, aquelas que possuem sedes e filiais em municípios diferentes. “Quanto maior a presença dessas entidades e organizações, maior a capacidade de uma cidade de se articular com as demais e maior a hierarquia”, afirma Marcelo Motta.

De acordo com o gerente do estudo, a hierarquia ainda é usada em vários pontos da pesquisa. Um deles, é no sentido da capacidade de dimensão das cidades em fornecer bens e serviços para a população dispersa ou habitando outros centros. O outro, é o vínculo da gestão do território. O vínculo é a relação entre as instituições públicas e privadas, com o deslocamento de pessoas para a aquisição de bens e serviços. Marcelo traz o exemplo “de quem mora em um município que não tem o bem ou serviço que necessita, precisa se deslocar para uma cidade maior para adquiri-lo”.

Alguns fatores definem a ascensão ou a queda de hierarquia. A trajetória econômica do lugar em função do tempo é uma das razões. Isso acontece quando, geralmente, há um crescimento econômico, e faz da rede urbana um ente mais complexo. O pesquisador aborda o exemplo de São Paulo – o estado possui 20 capitais regionais, que é o degrau abaixo de metrópole.

Possíveis atualizações no futuro

A partir da publicação própria, programada para sair em 2025, vai ter a atualização da gestão do território. O levantamento foi aprimorado com a incorporação da gestão estadual, adicionando as bases de dados das estruturas estaduais de saúde e educação. Motta complementa que a partir disso, a capilaridade da gestão pública vai aumentar e vai enfatizar a presença das centralidades intermediárias na rede urbana. A próxima REGIC – em 2028 – vai levar em conta o aprimoramento, com a gestão federal somada a estadual.