Primeiro grande encontro do Fórum Democrático debate financiamento para transição ecológica

Por Redação Gazeta Gaúcha/

Portal/ GZ1.com.br/ Porto Alegre RS/

Sheyla Scardoelli* – MTE 6727

Foto: Lauro Alves

 

O presidente da ALRS, deputado Pepe Vargas (PT), recebeu o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Aloizio Mercadante, em um almoço com autoridades no Palácio Farroupilha nesta segunda-feira (28). Mercadante foi o principal palestrante do primeiro grande debate do Fórum Democrático 2025, que teve como tema A Transição Ecológica e seu Financiamento.

Durante a tarde, o encontro reuniu autoridades e representações empresariais e de movimentos populares, estudantes e público em geral, que lotaram o Salão Nobre da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). A abertura contou com apresentação cultural do Grupo de Choro da Orquestra Villa-Lobos.

Pepe Vargas deu início aos trabalhos lembrando o lema de sua gestão – Pacto RS 25, o crescimento sustentável é agora – para destacar a urgente necessidade de medidas efetivas que busquem o desenvolvimento econômico aliado à preservação ambiental. Agradeceu o apoio do governo federal e do BNDES durante a tragédia climática que atingiu o estado em 2024. “Depois da catástrofe climática que vivemos, precisamos discutir desenvolvimento com sustentabilidade. Porque o que parecia que ia acontecer somente no futuro, já chegou”, acentuou.

O vice-reitor da UFCSPA, Rafael Vargas, mencionou a importância de se discutir temas urgentes de forma conjunta entre sociedade civil, entidades públicas e a comunidade científica e acadêmica. “Somos uma instituição pública voltada ao conhecimento científico e em defesa da vida em todas as suas dimensões, portanto precisamos garantir uma visão ampla e sistêmica da realidade”, declarou, reafirmando que o ser humano não é um indivíduo isolado dos demais seres. Destacou ainda a relação entre saúde e os quatro eixos que estruturam os debates do Fórum Democrático: a transição ecológica e seu financiamento; a sustentabilidade na indústria, comércio e serviços; a sustentabilidade na agricultura e na pecuária; e o enfrentamento das desigualdades regionais e sociais.

Para o governador Eduardo Leite, o conflito está na gênese do povo gaúcho, mas a questão central está no enfrentamento para buscar soluções. “O que vivemos de mudanças climáticas não pode ser um conflito com a natureza, pois sairemos perdedores, seja nas estiagens ou nas enchentes. Precisamos é gerar consciência sobre transição ecológica e o seu financiamento como oportunidades de desenvolvimento”, observou. Disse ainda que deve ser lançado em junho um projeto em parceira com o BNDES para a construção do Centro de Gerenciamento de Riscos e Desastres. “O Banco tem nos ajudado a estruturar este projeto e outros também”, relatou.

O presidente do BNDES foi o primeiro a se manifestar durante a rodada de debates, mediada pela jornalista Rosane de Oliveira. Após apresentar algumas características do BNDES, Aloizio Mercadante assinalou que sem participação do Estado não haverá transição climática. Isso porque, segundo ele, é a primeira vez que uma matriz energética mais nova, no caso aquela com fontes renováveis de energia, é mais cara que a anterior. “O Estado é sujeito político histórico para o desenvolvimento do país”, reafirmou Mercadante, lembrando que a busca de soluções é responsabilidade dos poderes públicos e passa pela mudança na forma de produção, que prevê a redução do desmatamento e da emissão de gases de efeito estufa.

Mercadante relatou que está dialogando com o governo gaúcho, uma vez que o RS é o estado que mais sofreu desastres naturais nos últimos 30 anos. “Estamos assistindo a um processo de aquecimento global muito veloz, com indicadores muito graves. Nenhum estudo acadêmico antecipou que seria tão rápida a chegada desses fenômenos extremos, e também não sabem dizer se será possível revertê-los. Consideramos que as soluções para os gaúchos estão nas mãos de quem melhor entende sobre o RS – os seus profissionais, os seus cientistas e a sua população. E, para o Brasil, precisamos ter ambição para a construção da agenda ambiental”, finalizou o presidente do BNDES.

A reitora da UFRGS, Marcia Barbosa, reafirmou a importância do conhecimento científico para a formação de políticas públicas que conduzam a transição ecológica por meio de caminhos consistentes. Marcia esclareceu que uma tragédia climática é a combinação de dois fatores. O primeiro são as emergências do clima, que tornam frequentes fenômenos que não aconteciam no passado e que são definidos pelas mudanças climáticas. O outro fator são os riscos, que dependem de onde os fenômenos acontecem. “Para entender, é preciso saber que o Brasil detém a matriz energética mais limpa do mundo, mas também emite poluição, seja por desmatamento, seja por emissões da agropecuária, que deveria utilizar mais bioinsumos. Esse tipo de ciência já é produzido pelas nossas universidades. Também precisamos produzir conhecimento para atender à nova realidade do clima. Como exemplo, temos um projeto para instalar sensores oceânicos no RS, que não dispõe de nenhum e sofre influência direta do aquecimento do Oceano Atlântico”, argumentou a reitora.

O presidente do BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul), Ranolfo Vieira Júnior, destacou algumas atividades do banco, que é um instrumento de fomento e pode contribuir de forma decisiva para o financiamento da transição ecológica no RS. Conhecido como banco verde, o BRDE teve, segundo Ranolfo, 82% de seus projetos alinhados ao menos a um dos objetivos do desenvolvimento sustentável do programa 20-30 da ONU. “Precisamos cada vez mais de conhecimento técnico e científico para a nova realidade climática”, resumiu.

O professor de Economia da UFRGS, Carlos Henrique Horn, refletiu sobre a dinâmica da economia gaúcha frente à transição climática. “Essa transição envolve um propósito global de enorme mudança estrutural. A escala e o ritmo com que a provisão de recursos financeiros mundiais vem acontecendo – Acordo de Paris, por exemplo – têm sido bastante insuficientes. Por que o mundo não consegue mobilizar recursos no volume e nas condições necessárias para os projetos de adaptação e de mitigação?”, questionou.

A coordenadora da Rede Sul de Restauração Ecológica, Ana Roveder, falou sobre a restauração de áreas naturais. Explicou que o processo requer sinergia com a reconstrução das condições mínimas de funcionamento de ecossistemas degradados. Essas estruturas devem considerar também os valores culturais, sociais e econômicos de cada localidade. “Precisamos entender que a transição ecológica deve ser justa, pois quem paga o preço maior sempre é a população mais pobre. O Brasil necessita de uma cadeia produtiva de restauração”, enfatizou Ana.

O presidente Pepe Vargas finalizou o evento, que inaugurou a série de debates do Fórum Democrático em 2025. Ao longo do primeiro semestre ocorrerão mais três encontros em Porto Alegre.

* Com informações de Erenice de Oliveira, da assessoria do Fórum Democrático.