Redução do desperdício de alimentos foi tema da Embrapa em conferência na Alemanha
Com o tema Food Systems for Our Future: Joining Forces for a Zero Hunger World (Sistemas Alimentares para o Nosso Futuro: Unindo Forças para um Mundo com Fome Zero), o 16º Fórum Global para Alimentação e Agricultura (GFFA) foi realizado de 18 a 20 de janeiro em Berlim, Alemanha. No primeiro dia, ocorreu a Conferência de Ministros de Agricultura. O analista Gustavo Porpino, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Alimentos e Territórios, foi palestrante no painel “ From global strategies to local implementation of food loss and food waste prevention ” e apresentou resultados do projeto Cidades e Alimentação, no estande do Thunen Institute, durante o Fórum de Inovação .
“O Brasil está em momento oportuno para atualizar a estratégia nacional de redução de perdas e desperdício de alimentos e buscar meios de implementação por meio de cooperações internacionais e engajamento de atores diversos desde a produção de alimentos até o consumo. A liderança do G20 está dando voz ao Brasil em muitos fóruns internacionais e os debates sobre sustentabilidade na produção e consumo de alimentos têm muita relação com as questões globais mais urgentes, além de oportunidades de fortalecer políticas públicas e fomentar o empreendedorismo vinculado a impactos socioambientais positivos”, comenta Porpino.
O GFFA faz parte da Semana Verde Internacional, realizada em Berlim desde 1926. Ministros da Agricultura de 61 países e representantes da FAO, FIDA, CGIAR, IICA, OECD, Banco Mundial, Programa Mundial da Alimentação, entre outros organismos internacionais, participaram do encontro. Durante a abertura do GFFA, o ministro Cem Özdemir, da Agricultura e Alimentação da Alemanha, ressaltou que as mudanças climáticas, a crise geopolítica, a perda de biodiversidade e a fome são problemas reais e urgentes que demandam a transformação dos sistemas alimentares. O ministro defende a valorização da agroecologia, agricultura orgânica, sistemas agroflorestais, e enfoque em economia circular.
Entre os compromissos assumidos durante o Fórum está a redução do desperdício alimentar global. O objetivo é reduzir drasticamente as perdas e o desperdício de alimentos ao longo de toda a cadeia de valor até 2030. Para atingir esta meta, objetivos específicos devem ser complementados por medidas eficazes; as perdas e desperdícios alimentares devem ser mensurados e todas as partes interessadas devem se comprometer a cumprir as medidas, relata o comunicado assinado pelos ministros dos 61 países participantes.
Os ministros pretendem reforçar a implementação das Diretrizes Voluntárias da FAO sobre o Direito à Alimentação e aumentar a sensibilização para as diretrizes. O Brasil, que lidera a agenda do G20 em 2024, foi representado pelo ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), que enfatizou a necessidade de equilíbrio entre a produção e o acesso aos alimentos em painel sobre agricultura sustentável e cadeias de abastecimento alimentar, realizado no dia 19. Ele ainda falou sobre a importância das práticas de agricultura regenerativa e citou a Embrapa como um caso de sucesso em desenvolvimento de tecnologias.
Os representantes dos países assinaram um comunicado oficial do GFFA ressaltando questões centrais para fortalecer os quatro eixos de ação prioritários alinhados à necessidade dos sistemas alimentares serem mais justos, resilientes e sustentáveis. São eles:
Promover a produção sustentável via transformação dos sistemas alimentares;
Fortalecer cadeias produtivas sustentáveis e resilientes;
Reduzir perdas e desperdício de alimentos; e
Fortalecer grupos vulneráveis.
Dentre os compromissos definidos também estão o fortalecimento do papel das mulheres no setor agrícola e a melhoria da gestão de fertilizantes e produtos fitofarmacêuticos.
O painel sobre perdas e desperdício de alimentos reuniu pesquisadores, representantes de ministérios e organismos internacionais, ONGs e empresas privadas. Para Stefan Lange, diretor de pesquisa do Thunen Institute e moderador do painel, a colaboração entre os países do G20 no tema perdas e desperdício de alimentos é uma oportunidade de troca de conhecimento e dos países avançarem em suas estratégias nacionais de redução das perdas e do desperdício.
“As dimensões do desperdício relacionadas com a emissão de gases de efeito estufa, ocupação em vão de terras agricultáveis e emprego de mão de obra para levar alimentos que não serão consumidos até o final da cadeia produtiva ainda são pouco percebidas”, comentou.
Além de Porpino, participaram como painelistas Felicitas Schneider, pesquisadora do Thunen Institute e coordenadora do GT do MACS-G20 sobre perdas e desperdício de alimentos, Chanjief Chandrakumar, pesquisador da Thinkstep-ANZ (Austrália e Nova Zelândia), e Sharon Yeukai Mada, pesquisadora visitante do Thunen Institute.
Schneider ressaltou que, anualmente, é realizado workshop sobre perdas e desperdício de alimentos no país sede do G20. Em 2024, há a expectativa da rede em fortalecer ações no Brasil e apoiar a atualização da estratégia nacional para redução de perdas e desperdício de alimentos. “A Argentina, por exemplo, que sediou o G20 em 2018, assinou uma carta de intenções naquele ano, e iniciou uma parceria com a FAO, Banco Mundial e PNUMA focada na redução das perdas e do desperdício de alimentos. Com o Brasil, também pretendemos ter ações concretas”, ressaltou.
Ações da Embrapa integram relatório anual do MACS-G20
Ações conduzidas pela Embrapa na temática de desperdício de alimentos integram o relatório anual de 2023 do Meeting of Agricultural Chief Scientists do G20 (MACS-G20), publicado pelo Thünen Institute of Market Analysis. Com o título “ From global strategies to local implementation of food loss and food waste prevention” (Das estratégias globais à implementação local da prevenção da perda e do desperdício alimentar), a publicação tem foco em sistemas alimentares urbanos sustentáveis.
Gustavo Porpino é um dos autores do relatório. Ele apresenta resultados do projeto “Cidades e Alimentação”, conduzido no âmbito dos Diálogos União Europeia – Brasil, que realizou um estudo de caso em cinco cidades brasileiras: Curitiba, Maricá, Recife, Rio Branco e Santarém. Também aborda discussões conduzidas na Embrapa sobre sistemas alimentares circulares urbanos e mostra resultados de capacitações e oficinas realizadas para merendeiras e nutricionistas sobre alimentação escolar.
Consulte a publicação.
Por: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Edição: Ailane Silva