Reordenar a gestão da segurança no Brasil é uma medida inadiável

Redação / Gazeta Gaúcha / Gazeta Nortense

Portal / gz1.com.br

Os dados desmontam qualquer possibilidade de argumento. O atual modelo de segurança totalmente alienado e desarticulado do cotidiano faliu. Quem explicita isso são os indicadores, cada vez mais estarrecedores. Seguir negando a necessidade de mudança para outro nível contribui exponencialmente para a consolidação da guerra civil que vivenciamos em terras tupiniquins.
A vida se desenrola nos municípios. Em uma sociedade cada vez mais frenética e excludente, em que as pessoas buscam sistematicamente fugar de seus problemas e frustrações e numa conjuntura social pouco acolhedora, beira a inocência imaginar que o atual desenho de operação da segurança em nosso país vai minimizar estes perversos indicadores.
Muito pelo contrário. A história vem demonstrando que a inação e a resistência às mudanças necessárias vem contribuindo para a naturalização da carnificina que vivenciamos por aqui.
Negligenciamos o trato e a gestão da segurança. Os esforços em todos os níveis da federação são insuficientes, distantes e desarticulados.
Aceitar a falência e ter a coragem de mudar é um imperativo praticamente inegociável.
Para termos noção do cenário em que nos encontramos, entre 1996 e 2021 aconteceram no Brasil 3,3 milhões de homicídios. São 367 homicídios por dia, durante 25 anos. Literalmente um banho de sangue. Poucas guerras reproduzem números assim.
Aproximadamente 70% dos crimes tem relação direta com tráfico de drogas. Como combater esse crime tão grave com enorme repercussão na vida das pessoas?
Nesta esteira, outra frente, de elevada gravidade, que retroalimenta o narcotráfico é o ingresso clandestino de armas no Brasil. Como proteger nossas fronteiras para diminuir a entrada destas armas que empoderam cada vez mais as facções criminosas?
Não é difícil perceber que as perguntas cada vez mais angustiantes se acumulam em busca de respostas que têm sido adiadas, negligenciadas e omitidas pelo poder público e a sociedade em geral, que parecem não mais se importar com o extermínio recorrente de seus compatriotas.
Emergencialmente a demanda pede mais polícia nas ruas e a revisão da legislação penal para tornar as penas mais pesadas. No médio e longo prazo há que se implementar políticas públicas com ênfase na emancipação do ser humano, mesmo em um país pobre e desigual como o nosso é possível melhorar consideravelmente este quadro vergonhoso.
Sem falar no colapsado sistema prisional que deveria promover a ressocialização dos detentos, mas há muito tempo não consegue promover este tipo de ação. Mesmo sob tutela estatal, o sistema tem se apresentado mais como uma escola do crime, dominado por facções que disputam internamente cada preso para fortalecer suas fileiras.
Para termos noção, Cuba é milhares de vezes mais pobre que o Brasil, tem uma população 20 vezes menor que a nossa e apresenta proporcionalmente taxas de crimes muito mais baixas que as nossas.
O desafio é gigante, mas precisa ser, acima de tudo, reconhecido e enfrentado com mais energia, interesse e organização.
O fato é que as pessoas comuns como eu e você estão cada vez mais amedrontadas. Precisamos admitir que vivemos em estado de guerra, mesmo que aparentemente silenciosa, mas real e cada vez mais próxima de nós. O sentimento de insegurança é crescente e assustador.
Quando os demais setores “falham”, o “estouro” se dá na segurança. Por isso que reordenar a sua gestão, com um claro compartilhamento de responsabilidades, entre todos os atores de todos os níveis, que devem ser orientados a atuar de maneira cooperativa e colaborativa, a partir da premissa de que a vida acontece nos municípios e não nas distantes capitais dos estados e nem na “folclórica” Capital Federal é imprescindível e inadiável.

Opinião  Ernani Machado