Fórum Democrático discute sustentabilidade com especialistas e comunidade em Rio Grande
Por Redação Gazeta Gaúcha/
Portal/ GZ1.com.br/ Porto Alegre RS/
Sheyla Scardoelli* – MTE 6727
Foto: Lauro Alves/ Assembleia
O primeiro seminário do Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional (FDDR) no interior do RS ocorreu nesta segunda-feira, (2), em Rio Grande. O encontro reuniu especialistas, lideranças empresariais, políticas e populares no auditório da Receita Federal de Rio Grande para debater o tema Pacto RS 25: o crescimento sustentável é agora. Pela manhã, o evento começou com a abertura cultural do grupo Nosso Choro e mesa oficial no primeiro momento. Na sequência, painéis temáticos foram mediados pelo jornalista Rodrigo Lopes.
A vice-prefeita de Pelotas, Daniela Brizolara, ressaltou que o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade são a mesma pauta. Segundo ela, respostas precisam ser dadas a quem mais precisa e caminhos humanos e ecológicos para todos devem ser apontados. O delegado da Receita Federal de Rio Grande, Cristiano Dembosk discorreu sobre o serviço de transformar produtos apreendidos em artigos para novos usos. Já o prefeito de São José do Norte, Neromar Guimarães, destacou que a pauta das mudanças climáticas é inesgotável, por isso requer discussões urgentes. Prefeito de São Lourenço do sul, Zelmute Maten, mencionou que o problema dos recursos públicos precisam obedecer o arcabouço fiscal, o que dificulta as negociações multilaterais para o financiamento dos efeitos sociais dos eventos climáticos extremos. O deputado Zé Nunes (PT) mencionou as questões relacionadas ao crescimento com sustentabilidade no estado. “A produção de alimentos no RS caiu ou estagnou na última década.” O deputado Halley Lino (PT) lembrou da necessidade da discussão sobre os temas do hidrogênio verde, das alternativas à monocultura, do uso de agrotóxicos e da implantação de um porto na metade Norte do estado, além do diálogo entre a academia e as comunidades.
O deputado federal Alexandre Lindemeyer (PT) citou a proposta de instalação do porto em Arroio do Sal, no Litoral, e a tramitação de um novo terminal de uso privado em área de ambiente sensível. Em contrapartida, salientou ele, Rio Grande tem o quarto maior porto do país em operações e de carga para Buenos Aires e Montevidéu, mas que precisa de apoio para os custos de logística. A prefeita de Rio Grande Darlene Pereira ressaltou que a cidade é uma terra sensível, que recebe todas as águas do estado. “Por isso, precisamos pensar num legado geracional para que garanta a possibilidade de um planeta viável para todos.Este é um momento de fazer, de construir políticas públicas”.
A mesa com os conferencistas teve início com o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Pepe Vargas (PT), relembrando o histórico do Fórum Democrático, instalado em 1999, com diferentes temas a cada ano. Para Pepe, a discussão com a sociedade gaúcha busca encontrar as prioridades regionais na construção de novos sistemas produtivos, que sejam viáveis economicamente e justos para o meio ambiente. “Já ultrapassamos a temperatura média do planeta e os cientistas não sabem se será possível recuperar os patamares anteriores. Acreditávamos que os eventos climáticos extremos chegariam mais tarde e eles já chegaram com força para nós. Financeiramente, é preciso considerar que o RS vem perdendo participação relativa na economia nacional e, na última década, perdeu o mecanismo público de pensar o desenvolvimento estratégico do estado, recentemente retomado”, observou.
O presidente da AL destacou que o RS poderá aderir ao programa de pagamento das dívidas dos estados, que deverá reduzir os juros da dívida pública e garantir um fôlego fiscal. “Não podemos voltar a crescer sem levar em conta a transição energética com transformação ecológica e os sistemas produtivos têm de ter metas para reduzir o efeito estufa. Não adianta investir em irrigação, é preciso ter manejo do solo e temos grande capacidade para produção e transmissão de energia eólica. Para esses desafios, precisamos dialogar com os programas estaduais e federais”, assinalou.
O painel Inovação, Cultura e Mudanças Climáticas começou com o pró-reitor de Extensão e Cultura da UFPel, Fábio Garcia Lima, com o tema Equidade e equilíbrio, o novo mundo que precisamos não é novo. Ele lembrou a importância da ancestralidade para a construção de projetos futuros com equidade, equilíbrio e desenvolvimento do território, respeitando as características de cada região. Conforme Lima, as universidades públicas devem contribuir com os conhecimentos que produz, mas ainda precisam dialogar melhor com as comunidades. “A extensão universitária precisa ter participação popular e economia solidária. E vocação da Zona Sul é a agricultura familiar, tipo de produção que aumenta a diversidade ambiental, e o ensino também necessita ser sustentável com acompanhamento constante”, mencionou. Ele lembrou a importância de se considerar na elaboração de propostas os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) e destacou os de números 18 (igualdade racial), 19 (arte, cultura e educação) e 20 (povos originários).
Para o tema As alterações climáticas e seus efeitos na região sul do RS, o gerente regional da Emater Pelotas, Ronaldo Maciel, lembrou sobre a frequência na perda de safras e a constante falta de água para consumo nas zonas rurais. Ressaltou ainda os efeitos dos fenômenos El Niño e La Niña, que ocasionam, periodicamente, estiagens e enchentes, o que afeta fortemente a economia da região. Já o assunto da pró-reitora de Extensão e Cultura da Furg, Débora Medeiros do Amaral, foi O impacto das mudanças climáticas nas comunidades e as contribuições da universidade para desenvolvimento sustentável. “Estamos desacomodados do nosso lugar seguro, o que gera medo e afeta social e financeiramente todos os aspectos da vida. Precisamos repensar a transformação social porque as instituições de ensino são espaços de referência das comunidades. A emergência climática mostrou que precisamos levar o conhecimento produzido a toda população”, ressaltou.
No painel Inovação, o chefe geral da Embrapa Clima Temperado, Waldyr Stumpf Jr, abordou o programa Recupera RS, mencionando a falta de estrutura para pesquisas, especialmente, nas áreas de agropecuária, fundamental para a economia do estado. Destacou ainda que as enchentes de 2024, afetaram a relação de pertenciamento das famílias desalojadas de suas casas, questão social cujos efeitos irão perdurar por décadas. O modelo de produção e de manejo do solo, segundo ele, necessita ser repensado. “Agricultura se faz com intelegência, inovação e com as pessoas”, finalizou.
Oportunidades no campo a partir da jornada de descarbonização da Refinaria Riograndense foi a abordagem do gerente de novos negócios da Refinaria de Petróleo Riograndense, João Luís Sombreiro Bulla, que lembrou o pioneirismo da instituição na produção nacional de combustível . Ele também antecipou o objetivo de se tornar a primeira biorefinaria do Brasil. Mencionou a construção de uma planta para produção de combustíveis de aviação (querosene sustentável) ou diesel verde, dentro da planta industrial da refinaria, um dos maiores investimentos para o estado, com previsão para 2028. Esse projeto tem a previsão de demanda de 800 mil toneladas de óleo por ano. O grande desafio segundo ele, é ter a certificação que qualifica a origem renovável dos produtos.
O eixo Cultura começou com a coordenadora do Núcleo de Produção Audiovisual Oficine e professora de Artes do IFRS campus Rio Grande, Raquel Ferreira, que tratou sobre a relevância do audiovisual como motor de desenvolvimento econômico. Ela salientou que o setor destaca-se significativamente para o PIB Nacional, lembrando que, em 2019, o RS contribuiu com R$ 24,5 bilhões para a formação desse índice brasileiro. Lembrou que a Lei Paulo Gustavo, que nasceu para mitigar os problemas do setor, injetou importantes recursos na região. “Pensar estratégias de desenvolvimento que considerrem investimentos também para este representativo segmento é urgente”, ressaltou.
Ainda sobre o segmento, Alexandre Mattos Meireles, integrante do coletivo Macumba Lab e co-fundador das produtoras Moviola Filmes e Mundo Atlântico Filmes, abordou o audiovisual como motor de desenvolvimento Econômico. Ele comentou que as características arquitetônicas e culturais das cidades da região se prestam para locações cinematográficas. Por outro lado, a estrutura econômica e turística das localidades, muitas vezes, não dá conta de atender as demandas. “O cinema desempenha um papel fundamental no desenvolvimento do RS não apenas como manifestação artística mas também como impulsionador econômico e cultural. O filmes fortalecem a identidade regional, atraem turistas e incentivam a produção criativa, além disso, festivais e mostras geram renda, criam empregos e colocam a região em evidência nacional e internacional. A produção audiovisual estimula a formação de profissionais e o surgimento de novas empresas do setor, diversificando a economia, de forma harmoniosa e sustentável”, resumiu Meireles.
O presidente Pepe Vargas encerrou os trabalhos dos painéis temáticos, mencionando que a AL incentiva a produção audiovisual gaúcha por meio da Mostra Gaúcha de Curta-metragens, iniciativa integrante da programação do Festival de Cinema de Gramado.
* Com informações de Erenice de Oliveira, da assessoria do Fórum Democrático